17 de agosto de 2020
O Lean Manufacturing é uma metodologia que possui um grande foco na redução dos desperdícios. Mas para que possamos reduzir os desperdícios, primeiro precisamos defini-los.
O que são desperdícios?
A definição que vejo como a mais clara é: “A utilização de recursos sem gerar valor agregado”, sendo valor agregado aquilo em que o cliente enxerga valor e queira pagar por.
Ou seja, usar recursos, que podem ser materiais, informações e tempo, sem gerar nada que agrega valor no final, isto é o desperdício.
O desperdício também está relacionado com a escassez. Se temos algo em abundância, é mais provável que o desperdicemos. É por isso que temos um grande desperdício de água, porém não desperdiçamos ouro, que é um material escasso e valioso.
Outra questão que deve ser pensada, quando vamos falar sobre redução de desperdícios, é a relação de valor para o cliente.
As vezes um processo pode parecer um desperdício, mas se o cliente enxerga valor naquilo, ele na verdade pode estar gerando valor.
Um exemplo pode ser um relógio colocado no painel de um carro. Para um carro popular, um relógio no meio do painel, sem marca definida, pode não gerar valor algum. Porém um relógio de marca, colocado em um carro de luxo, apesar de não ter uma funcionalidade maravilhosa, pode ser visto como de grande valor, por ser visto como uma “jóia”.
Assim o desperdício pode ser visto como tudo que não agrega valor, mas considerando, e não esquecendo nunca, da visão do cliente.
Mas como enxergar os desperdícios em um processo produtivo?
Com o desenvolvimento do Lean Manufacturing ao longo dos anos, os desperdícios começaram a ser classificados em alguns tipos, para facilitar a sua visualização.
Nesta classificação, eles são divididos em 8 tipos:
Transporte:
Fonte: LeanOp
O desperdício de transporte existe em qualquer processo produtivo. Ele está relacionado ao transporte de materiais, consumíveis e documentos de um lugar até o outro. Como ainda não inventamos o “teletransporte”, é impossível eliminar este desperdício, mas com um bom mapeamento de processos e reorganização de layout geralmente é possível reduzi-lo bastante.
Deve-se sempre tentar enxergar onde existe um transporte excessivo nos processos, que gera uma perda de tempo e encontrar soluções para tentar diminui-lo.
Voltando ao conceito de valor para o cliente, nenhum cliente quer pagar a mais por você ter transportado o produto dele por longas distâncias ao longo do processo, por isso, foque na redução.
Busque por:
– Componentes sendo transportados por longas distâncias
– Ferramentas sendo carregadas de um lado para outro
– Documentos sendo levados de um ponto a outro
– Produtos inteiros sendo transportados
Movimentação:
Fonte: LeanOp
Você pode pensar: Mas o desperdício de movimentação acabou de ser citado. Contudo, na classificação do Lean ele é diferente do transporte.
O desperdício da movimentação está relacionado ao deslocamento de pessoas no processo produtivo, e não no transporte de materiais ou documentos.
Quando uma pessoa precisa pegar algo em outro lugar, se deslocar para falar com alguém ou mesmo buscar uma ferramenta, componente ou documento, tempo está sendo desperdiçado com isso. Assim é mais um ponto a ser analisado e reduzido.
Da mesma forma que o desperdício do transporte, não é possível eliminar a movimentação, mas é possível reduzi-la.
Busque por:
– Pessoas andando de uma área até a outra para realizar trabalhos
– Armários de ferramenta longe do local de trabalho
– Pessoas buscando documentos em outros locais
Defeitos:
Fonte: LeanOp
O desperdício dos defeitos é o mais fácil de ser visualizado em qualquer processo, sendo também geralmente um dos mais expressivos em termos de tempo perdido. Ele está relacionado a qualquer parte a ser retrabalhada, desde documento até processos a serem refeitos.
Qualquer elemento onde um erro foi gerado e precisa-se que seja feita correção cai nesta classificação.
Deve-se sempre buscar o zero defeito, a eliminação completa dos defeitos em qualquer processo, para que a qualidade seja garantida.
Isto não é fácil, mas o Lean nos traz diversas ferramentas de qualidade para ajudar nesta batalha.
Para encontrar este desperdício procure por:
– Peças passando por retrabalhos
– Documentos sendo corrigidos após checagem
– Peças tendo que ser descartadas por erros
– Processos tendo que ser inteiramente refeitos devido a problemas encontrados
Inventário (estoque intermediário):
Fonte: LeanOp
Este tipo de desperdício é um pouco mais difícil de enxergar, se você nunca ouviu falar nesta classificação de desperdícios.
O inventário está relacionado aos materiais parados ao longo da linha de produção ou em estoque, ou documentos parados entre dois processos.
Para entender melhor, vamos voltar a perspectiva de valor para o cliente.
O cliente quer que o produto que está comprando passe pelos processos que adicionam valor, para que ele passe de uma matéria-prima para um produto final (se for um serviço, considerar das informações iniciais até o serviço completo e pronto).
O cliente não paga pelo tempo em que os produtos ficam parados aguardando o próximo processo, ou pelo tempo em que as informações ficam paradas aguardando a próxima área a processá-las.
Assim deve-se reduzir este estoque intermediário ao máximo. Além disso, produtos parados ao longo dos processos são iguais a dinheiro parado.
Para encontrar este desperdício procure por:
– Peças em frente a máquinas aguardando para serem confeccionadas
– Estoques intermediários de produtos semi-acabados
– Componentes aguardando para serem montados no produto final
– Itens que permanecem em estoque por um longo tempo sem serem consumidos
– Documentos parados em cima de mesas aguardando para serem processados
Superprodução:
Fonte: LeanOp
Um dos grandes focos da metodologia Lean Manufacturing é a eliminação da superprodução. Este desperdício está relacionado ao excesso de produtos acabados, que ficam aguardando no estoque para serem vendidos.
Isso gera um grande problema, pois ele afeta a empresa em diversos pontos:
– Problemas com fluxo de caixa, pois custos com matéria prima e custos de fabricação já foram incorridos e o faturamento com a venda ainda não foi obtido
– Problemas de produtos obsoletos: os produtos podem ficar parados no estoque e nunca serem vendidos se a demanda for alterada
– Falta de área para armazenamento e custos com armazenamento e movimentação
– Custos decorrentes a manutenção dos produtos
Por isso deve-se focar na produção do que é necessário na quantidade necessária e não na criação de grandes estoques.
Para que a demanda dos clientes seja suprida, a redução dos tempos de produção é essencial.
Se a empresa já produz sob demanda do cliente, muitas vezes este desperdício não se encontra como produto final. Mas ele pode ser visto com o excesso de documentos criados antes da fase necessária, excesso de consumíveis, entre outros.
Para encontrar este desperdício procure por:
– Produtos finais parados no estoque
– Documentos prontos aguardando para serem expedidos
– Compra excessiva de consumíveis (que ficam parados no estoque)
Superprocessamento:
Fonte: LeanOp
Este é um dos desperdícios mais difíceis de serem visualizados. Muitas vezes somente quem entende do processo consegue enxergá-lo. Por isso é muito importante que todos os funcionários estejam focados na busca dos desperdícios, para que todos os detalhes possam ser visualizados.
O superprocessamento está relacionado aos processos desnecessários realizados no produto final. Sob uma análise crítica, muitos processos produtivos podem ter etapas desnecessárias, que não agregam valor sob ótica do cliente.
Outra situação também é a existência de recursos no produto que não tem valor. Pense no seu celular por exemplo. Quantos recursos ele possui que você nunca usará em toda a vida do equipamento?
Por isso a busca deste desperdício deve ser feita com muito cuidado também durante o desenvolvimento do produto.
Para encontrar este desperdício procure por:
– Operações que não precisavam ser realizadas no produto
– Recursos do produto que praticamente nenhum usuário vai usar ou ver valor
– Atividades que tem o mesmo propósito, ou seja, que são redundantes
Espera
Fonte: LeanOp
A espera é um desperdício mais claro para ser visualizado.
Olhe a sua volta. Quantas pessoas estão paradas aguardando algo a ser entregue, um componente que precisa chegar, um e-mail que precisa de resposta.
A espera é um puro desperdício de tempo.
Para encontrar este desperdício procure por:
– Pessoas paradas ao longo da linha de produção
– Pessoas aguardando informações
– Pessoas aguardando peças, componentes, recursos, ferramentas e equipamentos
Conhecimento
Fonte: LeanOp
A classificação dos desperdícios do Lean anteriormente era feita nos 7 desperdícios já apresentados. Porém ao longo do tempo mais um foi observado, que não se classificava nos outros 7. Este é o desperdício do conhecimento.
Ele está relacionado ao mal uso do conhecimento das pessoas da organização, ou seja, a sub-utilização do conhecimento existente.
Este conhecimento pode estar relacionado a uma função específica, por exemplo: um funcionário com grande conhecimento em soldagem sendo utilizado em operações básicas de encaixe de peças.
Ou também relacionado a falta de oportunidade de utilização de ideias. Geralmente quem possui mais ideias de melhoria dos processos são as pessoas que estão executando-os. Mas como muitas organizações não dão a oportunidade a estas pessoas de expor e até mesmo aplicar as suas ideias, este conhecimento fica retido.
Para encontrar este desperdício procure por:
– Processos que funcionam da mesma forma há muito tempo, que não evoluíram ao longo do tempo
– Pessoas com baixa motivação na atividade em que estão fazendo
Estes são os 8 desperdícios. Tente visualizar as operações em sua organização para encontrá-los, e o mais importante, ter idéias para reduzi-los ou eliminá-los. Nunca se esqueça de dois itens que farão a diferença: observar tudo sob a ótica do cliente e envolver quem faz parte do processo na solução.
Obrigado e até mais!
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Escrito por: Tiago Brandão
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