Você provavelmente já viu empresas investindo pesado em alguma tecnologia miraculosa que resolveria vários problemas crônicos em tempo recorde.
Muitas vezes, estes investimentos, baseados em novas tecnologias, não possuem o efeito desejado, trazendo até mais problemas para a organização, devido ao aumento da complexidade.
Este efeito é comum em inovações de alto impacto, que demandam de altos investimentos em novas tecnologias (novos maquinários, novas plantas, implementação de novos softwares, entre outras), normalmente idealizados pela alta direção da companhia.
Dentro do Lean, mudanças deste tipo são conhecidas como Kaikaku (palavra japonesa para mudança radical). Muitas empresas adotam esta estratégia na forma de ações desesperadas para promover o seu negócio e manter a competitividade, quando se deparam com oportunidades de novas tecnologias e novos investimentos.
Apesar de mudanças deste tipo serem necessárias, elas devem ter o foco na resolução de problemas e desenvolvimento de oportunidades ligadas a essência do negócio. Novas tecnologias e novos investimentos são muito bem vindos, se forem um impulso na direção da visão de onde a empresa quer chegar, ligados a processos já bem estabelecidos.
Porém, o que vemos muitas vezes, são projetos onde as empresas não dedicam tempo compatível a complexidade da mudança. Além disso, a aplicação de novas tecnologias e investimentos as vezes ocorre apenas por serem novidade e não para resolução de problemas essenciais ou aceleração nas oportunidades mais críticas à organização.
Contrapondo-se ao Kaikaku existe o Kaizen. O Kaizen significa melhoria contínua, e há uma série de vantagens em seguir esta filosofia em lugar de adotar o Kaikaku para transformar a sua organização. Kaizens envolvem baixo investimento, ou muitas vezes nenhum, o que reduz consideravelmente a margem de risco e possibilitam que a iniciativa seja revista caso não tenha sido efetiva.
Kaizens podem ser feitos por todos da empresa trazendo resultados muito mais significativos e sustentáveis a longo prazo. Quando existe o envolvimento de todas as pessoas envolvidas no processo é gerado o sentimento de “dono” e elas se esforçarão para manter a iniciativa viva. Iniciativas baseadas no Kaikaku, por outro lado, muitas vezes sofrem muita resistência, se todas as pessoas não forem muito envolvidas em seu desenvolvimento (o que geralmente não ocorre).
Mas o benefício mais importante do Kaizen é a mudança cultural que ele provoca. Por serem aplicados facilmente e por todos, cria-se entre os funcionários o sentimento de que “a voz de todos é ouvida” e de “fazer acontecer”. Com isto, o nível de maturidade aumenta (os japoneses ensinam que Kaizen também significa “pessoa melhor”) e todo o ambiente da companhia é impactado.
O Kaikaku seria como construir uma grande pirâmide em um curto período de tempo e como um bloco único e de material frágil. Pode dar muito certo, mas o risco é enorme, e deve-se planejar muito bem. Já o Kaizen constrói esta mesma pirâmide, mas bloco a bloco, em mais tempo, com a ajuda de todos e com material mais robusto.
A dica para você é adotar o Kaizen como a base para o seu sistema de melhoria, o que levará uma mudança gradual e robusta na sua organização. Em processos já bem estabelecidos, essenciais para o negócio, novas tecnologias e investimentos são bem vindos e o Kaikaku pode ser aplicado, mas com um planejamento muito bem elaborado e com grande foco na estratégia da organização. Para estes casos, o Kaikaku pode ser suportado pela metodologia A3 e métodos de gestão de risco e gestão de mudança, a fim de atuar nas vulnerabilidades.
Sucesso na sua implementação do Lean e um grande abraço!
Escrito por: Tiago Brandão